RAÇA
Numa casa vultosa da cidade, Ouvi a mulher de posses falar: "-Willian, saia da piscina e vá se aprontar! Está na hora da condução da escola, O dinheiro do lanche está com a Maria. No término da aula o motorista vai te buscar. Minha mãe, a negra Sebastiana, Pelo seu esmero de bem lavar e passar, Por todos era conhecida no vilarejo do lugar. Com o pouco que ganhava nunca deixou-nos faltar. O sagrado cuscuz com café, Alimento de cada dia que nos mantinha de pé. Meu pai trabalhava na fazenda, De um renomado doutor. Cuidava do gado e arava a terra, Era um exímio lavrador. Na boca da noite chegava cansado, Mas com o olhar esperançado nos transmitia amor. Saíamos cedo para a escola pública, Pois muito tínhamos que caminhar. Se caso chegássemos atrasados a Parcial diretora, não nos deixava entrar. Faltar, só nas constantes greves dos professores. Um direito que fere o direito de quem precisa estudar. Com raça e dificuldade conseguimos terminar, O ensino secundário na escola pública do lugar! Mas como acessar a Universidade Pública, Se temos que disputar com alunos, Mais bem preparados em escola particular? Como ocultar a dolosa desigualdade social, Que veda pobre e negros de acessarem o 3º grau? Quem trabalha não pode estudar, O que ganha não dá pra pagar. A irreal mensalidade da faculdade particular. Brasil seja franco, você nunca foi branco! Tu és canela, tal qual Gabriela. Brasil, sua pele é morena, Não me consta que seja amarela. Brasil vê se para com isso, Você já nasceu mestiço. Rubens Lima
Enviado por Rubens Lima em 25/04/2007
Alterado em 10/03/2018 |